| Em 28/06/2023

Serrapilheira apoiará 32 jovens cientistas com R$ 22 milhões em parceria com Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs)

Pesquisadores buscarão respostas a perguntas ousadas e arriscadas da ciência por meio de cofinanciamento entre o Instituto Serrapilheira e Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs).(Foto: divulgação)

Trinta e dois jovens cientistas do Brasil vão receber um financiamento de R$ 22 milhões para investir em projetos de pesquisa ousados e arriscados. Eles foram selecionados pela 6ª chamada pública de apoio à ciência do Serrapilheira, focada em pesquisadores que propusessem grandes perguntas nas áreas de ciências naturais (física, química, geociências e ciências da vida), matemática e ciência da computação. O valor total é fruto de uma parceria entre o instituto e Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), que vão financiar parte dos grants a cientistas de seus respectivos estados.

A parceria firmada entre o Serrapilheira, o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP) e as FAPs de alguns estados se dá por meio de cofinanciamento. Ou seja, o Serrapilheira e as FAPs apoiam conjuntamente cientistas selecionados pela chamada pública do instituto.

Na 6ª chamada, o montante disponibilizado pelo Serrapilheira é de R$ 9,1 milhões – sendo R$ 3,2 milhões destinados ao chamado bônus da diversidade, a ser investido na formação e integração de pessoas de grupos sub-representados nos grupos de pesquisa -, e o total oferecido pelas FAPs é de cerca de R$ 13 milhões. A distribuição dos valores vai variar conforme alguns critérios, como o tipo de uso a ser feito dos recursos, e está sendo avaliada caso a caso com cada FAP.

Nesta chamada, até o momento participam as Fundações de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Rio de Janeiro (Faperj), de Minas Gerais (Fapemig), do Ceará (Funcap), do Rio Grande do Sul (Fapergs), do Distrito Federal (FAPDF) e do Paraná (Fundação Araucária). Outras FAPs ainda estão analisando fatores como a disponibilidade de orçamento, e também podem contribuir para o cofinanciamento de cientistas de seus respectivos estados que foram bem avaliados no processo de seleção, mesmo após o anúncio dos selecionados. Edições anteriores das chamadas também contaram com a Fapesc, de Santa Catarina.

“Por serem privados, os recursos do Serrapilheira contam com mais flexibilidade que o das FAPs, por isso é mais eficaz direcioná-los a fins que tradicionalmente têm maior rigidez, como o pagamento das despesas associadas ao bônus da diversidade,”, explica Cristina Caldas, diretora de Ciência do Serrapilheira. “Buscamos, assim, otimizar a parceria público-privada da melhor forma, capilarizando mais recursos para cientistas em um momento tão importante da consolidação de suas carreiras como pesquisadores independentes, montando seus grupos e estabelecendo suas linhas de pesquisa.”

“A parceria entre o Confap e o Instituto Serrapilheira fortalece o sistema de apoio à pesquisa no Brasil, possibilitando uma maior sinergia e complementaridade na seleção e financiamento de projetos de pesquisa de alto risco e impacto”, destaca Odir Dellagostin, presidente do CONFAP. “Essa colaboração se traduz em benefícios para a comunidade científica e para a sociedade como um todo, com um aumento significativo na capacidade de financiamento de projetos de pesquisa.”

Os cientistas selecionados 

Os candidatos deveriam ter vínculo permanente com alguma instituição de pesquisa no Brasil e ter concluído o doutorado entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2020 – prazo estendido em até dois anos para mulheres com filhos. A 6ª chamada valorizou especialmente projetos de pesquisa arriscados, e pedia que os candidatos detalhassem como suas escolhas poderiam dar errado e o que eles pretendiam fazer caso isso ocorresse. A premissa é a de que a ciência avança mais quando assume riscos.

Os contemplados vão receber entre R$ 200 mil e R$ 700 mil, a serem usados durante cinco anos. Eles também terão acesso a recursos extras – até 30% do grant recebido – para investir como bônus da diversidade.

Entre os selecionados, há quatro rostos conhecidos pelo Serrapilheira, de cientistas que foram apoiados por editais anteriores. Um deles é a bióloga Gabriela Cybis, professora do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que, em 2018, recebeu R$ 75 mil do instituto. Seu projeto consistia em estudar por métodos estatísticos o vírus da gripe, com o objetivo de fazer previsões que ajudassem a informar estratégias de manejo da epidemia.

Com uma pesquisa extremamente interdisciplinar entre ciências da vida, matemática e estatística, no novo projeto ela propõe uma abordagem inovadora usando machine learning para modelar filodinâmica. Sua grande pergunta que conquistou os revisores é: “podemos fazer melhor uso dos dados de sequência para identificar novas linhagens virais que se espalham rapidamente – antes mesmo de surgirem nos dados?” Agora, ela volta ao quadro de apoiados do Serrapilheira com um grant de R$ 700 mil.

Entre os novos grantees, o geocientista Carlos D’Apolito, professor da Universidade Federal do Acre, vai receber R$ 550 mil para tentar responder, diretamente da região Norte, à pergunta: “As savanas e florestas secas se espalharam no sudoeste da Amazônia durante o último período glacial?” Sua trajetória começou no Centro-Oeste, com a graduação em biologia pela Universidade Federal da Grande Dourados (Mato Grosso do Sul), e passou pela Inglaterra, onde fez o doutorado em geociências pela Universidade de Birmingham.

Conheça todos os cientistas selecionados:

  • Ciências da vida

Amanda Cunha
Universidade Federal de Viçosa (MG)
Projeto: Como a interação entre hidroides e seus substratos vivos molda os padrões de diversidade desses invertebrados coloniais marinhos?
O projeto vai estudar a relação entre hidroides – uma das fases da vida de pequenos animais semelhantes a águas-vivas – e outros animais e algas marinhos para entender a biodiversidade de invertebrados marinhos.

Artur Santos-Miranda
Universidade Federal de Minas Gerais (MG)
Projeto: A via da CAMKII é um regulador central da disfunção de cardiomiócitos e da carga parasitária de T. cruzi durante a implementação da cardiomiopatia chagásica?
O projeto visa estudar o papel da via de sinalização celular dependente de CaMKII para a biologia do Trypanosoma cruzi (causador da doença de Chagas), e para a função dos cardiomiócitos – as células contráteis do músculo do coração.

Cibele Rocha Resende
Universidade Federal de Minas Gerais (MG)
Projeto: Os macrófagos residentes são ativados pelo estresse cardíaco?
O projeto busca entender como os macrófagos se integram no microambiente cardíaco e qual o seu impacto na função cardíaca.

Cleiton Eller
Universidade Federal do Ceará (CE)
Projeto: Os princípios evolutivos podem ser usados ​​para prever a mortalidade de plantas durante a seca e explicar a coexistência de plantas em ambientes secos?
Para entender como as comunidades de plantas conseguem se sustentar em ambientes secos, o projeto vai estudar as estratégias de sobrevivência das plantas submetidas à escassez de água.

Daniel Ardisson-Araújo
Universidade de Brasília (DF)
Projeto: Podemos controlar populações de insetos-praga da agricultura afetando a microbiota do intestino com a exposição oral a vírus que matam bactérias?
O grupo vai investigar o uso de vírus que matam bactérias (os fagos) para regular a microbiota natural do intestino dos insetos-praga e assim afetar sua sobrevivência e também a sensibilidade a inseticidas.

Edileusa Gerhardt 

Universidade Federal do Paraná (PR)
Projeto: Como as proteínas PII integram e regulam o metabolismo microbiano e como isso afeta a fixação de nitrogênio em Azospirillum brasilense?
A partir da família de proteínas PII, o projeto vai estudar o metabolismo de bactérias que se associam com plantas para a fixação de nitrogênio.

Gabriela Cybis
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS)
Projeto: Podemos fazer melhor uso de sequências genéticas para identificar novas variantes virais de rápida propagação antes mesmo de emergirem nos dados?
O projeto vai estudar como usar técnicas de aprendizado de máquina para antecipar e acompanhar o surgimento de novas linhagens de vírus com potencial pandêmico.

Guilherme Ost de Aguiar
Universidade Federal do Rio de Janeiro (RJ)
Projeto: Dados os registros da atividade simultânea de um conjunto de neurônios, como inferir as interações entre os neurônios desse conjunto?
Ao desenvolver modelos matemáticos, o projeto pretende reconstruir a rede das interações entre neurônios a partir de dados sobre a atividade elétrica agregada do conjunto de neurônios.

Jeferson Vizentin-Bugoni
Universidade Federal de Pelotas (RS)
Projeto: As plantas tropicais podem contar com dispersores de sementes para acompanhar as mudanças climáticas e evitar a extinção?
O projeto vai estudar como as diferenças de dispersão de sementes entre plantas tropicais podem afetar seus riscos de extinção, levando em conta o impacto das mudanças climáticas.

Marcelo Campos
Universidade Federal de Mato Grosso (MT)
Projeto: Por que as plantas são resistentes à maioria dos insetos?
O projeto pretende responder por que insetos herbívoros só conseguem se alimentar de certas plantas, enquanto a maior parte das plantas é resistente à maior parte dos insetos.

Marilia Sonego
Universidade Federal de Itajubá (MG)
Projeto: Como as trincas no fruto da castanha-do-pará podem funcionar como mecanismos de tenacificação resultando em uma cápsula protetora extraordinária?
Usando microtomografia dos frutos e impressão 3D, o projeto vai investigar como as pequenas trincas e vazios no fruto da castanha-do-pará fazem com que ela seja tão resistente e tenaz.

Michel Naslavsky
Universidade de São Paulo (SP)
Projeto: Como a ancestralidade genômica e miscigenação modulam os efeitos do gene APOE  na substância branca, mielinização e declínio cognitivo?
O projeto busca entender o efeito da ancestralidade recente do gene que codifica a apolipoproteína-E – uma proteína importante para a doença de Alzheimer – nas conexões cerebrais e o declínio cognitivo.

Pedro Meirelles
Universidade Federal da Bahia (BA)
Projeto: Qual é o papel da matéria escura microbiana na estabilidade dos ecossistemas?
Usando dados públicos de sequenciamento genômico, o projeto vai mapear a interação entre microorganismos e estudar a influência da fração desconhecida dos microbiomas na estabilidade dos ecossistemas.

Rafael L. G. Raimundo
Universidade Federal da Paraíba (PB)
Projeto: Solucionando a Tragédia dos Comuns: como sincronizar redes ecológicas e socioeconômicas para alcançar a sustentabilidade?
O projeto pretende testar a hipótese de que a degradação dos recursos naturais está inversamente correlacionada com o grau de adaptabilidade dos sistemas sócio-ecológicos, e, a partir daí, oferecer subsídios para estratégias de governança adaptativa.

 

  • Ciência da computação

Eduardo Pena
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PR)
Projeto:  Como descobrir metadados relevantes para o gerenciamento e análise de dados?
O projeto estudará maneiras de minerar metadados–dados descritivos sobre conjuntos de dados–que auxiliem aspectos diversos do gerenciamento e análise de dados.

Dalton Martini Colombo
Universidade Federal de Minas Gerais (MG)
Projeto: Os circuitos eletrônicos existentes operam com base em sinais em formatos analógico e digital. É possível mudar esse paradigma e utilizar sinais no domínio tempo?
Visando um novo tipo de hardware mais eficiente que os atuais, este projeto pretende desenvolver uma nova classe de circuitos eletrônicos que utiliza o tempo entre pulsos elétricos para codificar e processar dados.

Mariza Ferro
Universidade Federal Fluminense (RJ)
Projeto: Uma inteligência artificial sustentável pode prever eventos de chuva extrema e prevenir grandes desastres em áreas urbanas?
Interdisciplinar com a ecologia, o projeto visa desenvolver modelos estatísticos para prever chuvas extremas e antecipar possíveis desastres em áreas urbanizadas.

 

  • Física

Dyana Duarte
Universidade Federal de Santa Maria (RS)
Projeto: Existem fases exóticas no diagrama de fases da Cromodinâmica Quântica?
O projeto busca entender as implicações de dados recentes sobre ondas gravitacionais na cromodinâmica quântica – a teoria sobre o que se passa no interior das partículas subatômicas como prótons e nêutrons.

Fernando Iemini de Rezende Aguiar
Universidade Federal Fluminense (RJ)
Projeto: Quais são os limites fundamentais em nossa capacidade de medir o tempo com as leis da termodinâmica quântica e da teoria de muitos corpos?
O projeto vai buscar as leis da física que limitam a nossa precisão para medir a passagem de tempo.

Thiago Guerreiro
Pontifícia Universidade Católica (RJ)
Projeto: Podemos detectar a natureza quântica da gravidade?
Fazendo medições por meio da optomecânica quântica – que se vale das interações entre a luz e o movimento de objetos mecânicos – o projeto pretende detectar a natureza quântica de campos gravitacionais.

 

  • Geociências

Carlos D’Apolito
Universidade Federal do Acre (AC)
Projeto: As savanas e florestas secas se espalharam no sudoeste da Amazônia durante a última glaciação?
Estudando fósseis da vegetação e megafauna brasileira, o projeto pretende descobrir se houve uma expansão das savanas e florestas secas no sudoeste da Amazônia durante a última era glacial.

Cesar Rocha 
Universidade de São Paulo (SP)
Projeto: A turbulência de pequena escala no oceano abissal força a variabilidade climática?
Com um modelo matemático e dados in situ, o projeto vai buscar responder se a mistura turbulenta no oceano profundo afeta as correntes oceânicas e, consequentemente, o clima global.

Karlos Guilherme Diemer Kochhann
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS)
Projeto: As zonas úmidas na Amazônia foram fontes ou sumidouros de carbono durante os últimos estados de aquecimento global?
O projeto busca entender o fluxo de carbono a partir das áreas alagadas da Amazônia no período de aquecimento global do Mioceno, por volta de 14 milhões de anos atrás.

Micael Amore Cecchini
Universidade de São Paulo (SP)
Projeto: A agregação de nuvens leva a uma maior eficiência na geração de chuvas na Amazônia?
Poucas nuvens grandes geram mais chuva do que várias nuvens pequenas, sob condições atmosféricas similares? Partindo dessas questões, o projeto vai investigar o efeito da agregação de nuvens no volume de chuvas na Amazônia.

Susanne Maciel
Universidade de Brasília (DF)
Projeto: Como a composição física do ruído sísmico ambiental influencia os métodos de imagem/monitoramento baseados em ruído ambiente?
O projeto vai investigar como as características do ruído sísmico  – as vibrações naturais do ambiente geradas pelo mar, ventos e pela vida humana – afetam os equipamentos de monitoramento modernos usados para medir propriedades geológicas e sísmicas do solo.

 

  • Matemática

Felipe Gonçalves
Instituto de Matemática Pura e Aplicada (RJ)
Projeto: Qual é o arranjo mais eficiente de esferas em várias dimensões?
O projeto busca encontrar a melhor configuração de esferas num espaço multidimensional a fim de cobrir a maior proporção do espaço.

Francisco Vanderson  Moreira de Lima
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS)
Projeto: Como detectar buracos negros via desigualdades geométricas?
Buscando maneiras de detectar buracos negros usando variações geométricas no espaço-tempo, o projeto interdisciplinar une física e matemática.

Mauricio Jose Poletti Merlo
Universidade Federal do Ceará (CE)
Projeto: Quão típico é o caos?
O projeto busca responder o quão comum são os sistemas caóticos entre os sistemas dinâmicos.

Ramon Moreira Nunes
Universidade Federal do Ceará (CE)
Projeto: Como estimar funções L?
A partir de resultados recentes orientados pelo programa de Langlands, o projeto vai buscar estimativas não-triviais das funções L, parte da teoria dos números.

Renata Rojas Guerra
Universidade Federal de Santa Maria (RS)
Projeto: Modelos dinâmicos para variáveis ​​aleatórias duplamente limitadas: como prever indicadores de desenvolvimento sustentável medidos em taxas e proporções?
Utilizando dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico sobre energia hidrelétrica, o projeto vai buscar técnicas estatísticas para a previsão de indicadores do desenvolvimento sustentável.

 

  • Química

Juliana Brito
Universidade Estadual Paulista (SP)
Projeto: É possível continuar vivendo em um planeta sem produção de energia limpa e consciência ambiental?
Utilizando resíduos industriais, o projeto vai estudar a produção de energia limpa a partir de reações químicas.

Taicia Fill
Universidade Estadual de Campinas (SP)
Projeto: Quais são as bases moleculares da associação simbiótica fungo-planta?
Investigando as moléculas do sistema de defesa das plantas, o projeto vai estudar as relações simbióticas entre fungos e plantas.

 

Fonte: Instituto Serrapilheira

 

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