| Em 30/06/2024

Pesquisadores refugiados contribuem para o desenvolvimento da C&T fluminense

O russo Vladimir Mironov (à esq.), contemplado no programa da FAPERJ para pesquisadores refugiados, com os sócios da Gcell, startup fundada por Leandra Baptista e incubada na Coppe/UFRJ (Foto: Divulgação)  

Há cerca de 1,5 milhão de imigrantes no Brasil, sendo que cerca de 700 mil, de 163 nacionalidades, são refugiados ou solicitantes de refúgio. Neste mês de junho, que abriga o Dia Mundial do Refugiado (20/6), a FAPERJ anuncia que em julho lançará a segunda edição do edital para pesquisadores de zona de conflitos. Em homenagem ao falecido físico e professor emérito da Coppe/UFRJ, o programa Luiz Pinguelli Rosa de Mobilidade e Instalação de Pesquisadores Originários de Regiões em Conflito em Instituições de Ciência e Tecnologia trouxe ao estado, em sua primeira edição, nove cientistas de zonas de conflito. Entre os quais, cientistas da Ucrânia, Rússia, Irã e Síria.

Com investimento de mais de R$ 10 milhões, a iniciativa pioneira da FAPERJ ofertou a cada um dos estrangeiros uma bolsa mensal no valor de R$ 9 mil por até 12 meses; passagens de ida e volta; seguro viagem e um auxilio à pesquisa para o pesquisador-anfitrião, totalizando, no máximo, R$ 200 mil. Os projetos aprovados em abril de 2023 contemplaram áreas como as Engenharias, Ciências Biológicas, Ciências Exatas e da Terra e Ciências Agrárias em instituições como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).

Para a coordenadora da Assessoria de Relações Internacionais da FAPERJ, Vania Paschoalin, o edital trouxe diversas oportunidades a pesquisadores qualificados e produtivos e que trabalham em áreas de fronteira do conhecimento. Originários de regiões conflituosas, estavam impedidos de desenvolver com plenitude pesquisas em seus países de origem. “Nesta primeira edição do programa Luís Pinguelli Rosa, os pesquisadores contemplados com as bolsas de mobilidade e instalação vieram de países que enfrentam conflitos históricos, e encontraram parceiros científicos nas diferentes ICTs do Estado do Rio de Janeiro, e juntos, estão desenvolvendo ciência de qualidade e inovação tecnológica em diversas áreas do conhecimento, a serviço da melhoria da vida da sociedade fluminense”, afirma Paschoalin.

Ciência de ponta – O russo Vladimir Alexandrovich Mironov foi um dos contemplados. Orientado pelo pesquisador José Granjeiro, do Inmetro, o projeto foi na área de bioimpressão. Mironov conta que, quando chegou no Brasil, praticamente, não havia pesquisas de bioimpressão. Agora, já existem oito empresas na área no País e algumas delas já produzem bioimpressoras originais. Segundo ele, o País evolui rapidamente como player no desenvolvimento da tecnologia emergente e tem capacidade de se tornar influente e reconhecido no mundo.

“Fiquei muito surpreso e fortemente impressionado ao saber que o Brasil já está desenvolvendo tecnologias de bioimpressão originais e únicas para a produção de alimentos cultivados em escala industrial. É uma revolução na agricultura”, disse o pesquisador russo. A sua pesquisa é na área de bioimpressão 3D de cartilagem humana. Com o grupo do Inmetro, Mironov já produziu três artigos científicos. E espera, em breve, apresentar mais dois. Um dos artigos publicados é sobre o uso de blocos de construção de órgãos em bioimpressão e um dos que ainda será publicado trata da bioimpressão in situ de cartilagem usando esferoides de tecido (condrosferas) como blocos de construção. “Estamos ainda escrevendo uma revisão conjunta sobre o uso de osteo esferoides como blocos de construção para engenharia de tecido ósseo. Nosso conceito original de usar esferoides de tecido como blocos de construção tornou-se popular e, com isso, eu e a professora Leandra Baptista fomos convidados para atuar como editores da edição especial do ‘International Journal of Bioprinting'”.

(Foto: Divulgação)  

Cientistas sírios – As aplicações bioativas do resíduo da filetagem de peixes, especialmente, a pele de tilápias, foi alvo de estudo do bolsista sírio Siraj Salman Mohammad. Orientado pelo professor José Lucena Barbosa Júnior, da UFRRJ, ele analisa os efeitos antimicrobiano e anti-inflamatórios in vitro e in vivo. “O produto obtido apresentou 130% do efeito anti-inflamatório do medicamento disponível. Ou seja, 30% acima do produto comercial. Isso tudo a partir de um resíduo”, ressalta Lucena. 

Mohammad destaca a multidisciplinaridade do estudo, que reúne áreas como biologia, tecnologia, química e alimentos. E Lucena complementa que o trabalho foi realizado em parceria com uma empresa de venda de tilápias em Mangaratiba, município a 85 quilômetros da capital na região Sul Fluminense, e que já está expandindo as aplicações para um shot – bebida em dose única, funcional e bioativa. Siraj Mohammad se diz extremamente satisfeito com a oportunidade que a bolsa lhe trouxe e a cooperação entre os cientistas brasileiros. “Junto com a equipe, conseguimos vários resultados bem interessantes e continuo com os experimentos para testes de cicatrização de queimaduras em animais de laboratório, usando os peptídeos biológicos, oriundos da pele da tilápia”, esclarece.

Vindo também da Síria, Mohammad Al Abed tem experiência em sensoriamento remoto com trabalhos internacionais para organismos como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a União Europeia. No Brasil, tem trabalhado no Instituto de Geociências da UFF. “Minha experiência científica no Brasil tem sido muito bem-sucedida e frutífera. Compartilhamos conhecimento e experiência. Eu ensino métodos de mapeamento da degradação do solo e eles me ensinam como usar drones na gestão ambiental, porque na Síria não é permitido o uso desses equipamentos”, explica o pesquisador.

Al Abed conta que já conseguiram terminar mapeamentos da degradação de solo nos municípios de Cachoeiras de Macacu, Maricá (incluindo as cinco ilhas de Maricá), Iguaba Grande e São Pedro da Aldeia. Nesses locais, utilizam uma metodologia de imagens de satélite e drones para identificar as áreas não afetadas e as áreas afetadas por erosão. “Quanto às áreas instáveis, identificamos o tipo de processos erosivos dominantes e a sua relativa intensidade e tendência de evolução. As áreas instáveis ​​sofrem, principalmente, com a erosão dos lençóis e dos riachos, devido a práticas agrícolas inadequadas, expansão urbana e desmatamento. Assim, essas áreas sofrem erosão do solo pela água, o que está se tornando um grande problema, principalmente em colinas e encostas suaves de montanhas que foram transformadas em áreas com pouca ou sem cobertura vegetal, incapazes de proteger o solo da erosão hídrica e do escoamento. Consequentemente, a erosão e o escoamento do solo levam a perdas de solo, danos ambientais e perdas materiais e humanas”. esclarece Al Abed.

Ele explica que, após a definição das áreas estáveis ​​e instáveis, é selecionado um conjunto de medidas corretivas a serem aplicadas que podem incluir programas de reflorestação e gestão florestal, construções de terraços e de saídas de água, aplicação de lavoura de contorno, educação da comunidade rural sobre a importância das florestas e gestão da terra. No momento, ele está articulando um convênio e cooperação entre a Embrapa Solos do Rio de Janeiro e o Centro Árabe de Estudos de Zonas Áridas e Terras Secas (ACSAD).

A ACSAD funciona no âmbito da Liga dos Estados Árabes e é considerada o principal centro de investigação agrícola da região. Além dos benefícios científicos desta cooperação, haverá grandes benefícios econômicos para o Brasil, porque a parceria poderá ajudar no aumento das exportações de produtos agrícolas daqui para os países árabes. Muito agradecido aos professores Fábio Ferreira Dias, Angélica Carvalho Di Maio, Thelma Machado e Carlos Rodrigues Pereira, todos da UFF, Mohammad ressalta todo o carinho recebido: “Me tratam como um de seus familiares. Gostaria também de agradecer à FAPERJ por me dar esta oportunidade de vida e me conceder uma bolsa de estudos que me permite realizar pesquisas com pesquisadores brasileiros para compartilhar conhecimento e expertise”.

Para além da produtividade científica, Mohammad conta suas experiências pelo País. “Minha vida no Brasil é muito agradável e animada. Gosto das pessoas, pois são amigáveis, e da bela natureza e da cultura colorida deste País encantador e pacífico. Vi o Carnaval e foi uma experiência incrível e maravilhosa, porque é cheio de vida, energia e cores, realizado por milhares de pessoas de diferentes raças e idades para representar uma história de forma magnífica. Foi como um bom sonho para mim. Tenho ainda um desejo, que a FAPERJ estenda minha bolsa para que eu possa trazer minha esposa e três filhos pequenos para cá. Quero morar aqui em paz e segurança. Meu país está em guerra desde 2011, e minha família sofre ameaça todos os dias e noites”.

Conheça mais sobre as atividades de setor de Cooperação Internacional da FAPERJ.  

Fonte: FAPERJ (Por: Claudia Jurberg/ Ascom Faperj)

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