| Em 21/08/2023

Pesquisa financiada pela Fapespa descobre fóssil de “preguiça gigante” em Aveiro

(Foto: divulgação)

A paleontologia é uma ciência que resgata informações de milhões de anos de evolução. O conhecimento dos seres vivos que já passaram por aqui nos ajuda a compreender como a vida surge e desaparece do planeta. O estado do Pará ainda apresenta poucos registros fósseis de animais, espécies extintas e viventes, principalmente em ambientes de cavernas, que não sobreviveram a eventos de extinção. Mas um projeto financiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) vem trazendo novas descobertas, como a que mostra a presença de “preguiça gigante” que viveu no município de Aveiro/PA.

Capacitação

Em 2019, através da parceria entre a Fapespa e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi aprovado o investimento na proposta “Contribuições ao estudo dos mamíferos do final do Quaternário aplicado métodos arqueológicos de escavação”, liderado pelo biólogo e paleontólogo Elver Mayer, que também é professor e pesquisador da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).

Estudantes do Grupo de Estudos em Paleontologia (Gepaleo) do Instituto de Estudos do Xingu da Unifesspa, junto com o Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental Evolutiva (LAAAE) da USP, realizaram escavações paleontológicas em uma caverna em Minas Gerais, na Área de Proteção Ambiental Carste de Lagoa Santa, na região conhecida como o berço da paleontologia e da arqueologia do Brasil.

“Além da importância científica, os projetos que coordeno com auxílio financeiro da Fapespa têm pertinência para a formação de recursos humanos. Isso foi realizado com a participação direta de estudantes de graduação no projeto, com palestras e uma visita técnica. Um TCC foi concluído e outros quatro estão em andamento. Com a excelente qualidade de materiais e registros obtidos ao longo do projeto, poderemos desenvolver uma série de outros trabalhos futuramente, permitindo que mais estudantes se beneficiem do investimento em prol de sua formação profissional”, explica Mayer.

(Foto: divulgação)

Prática

Já em 2022, com a equipe de estudantes paraenses do Gepaleo capacitada para escavar um sítio paleontológico com métodos refinados, Elver conseguiu um novo fomento da Fapespa, dessa vez em conjunto com Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto intitulado “Métodos arqueológicos de escavação aplicados a depósitos paleontológicos em cavernas do Pará”, que segue em andamento, colocou os pesquisadores em trabalho exploratório na caverna Paraíso, situada em Aveiro/PA, e imediações, na busca de depósitos fossilíferos.

A caverna Paraíso é a maior cavidade natural conhecida na Amazônia até o momento, atingindo mais de sete quilômetros de extensão, sem ter sido totalmente mapeada. Através dos trabalhos da exploradora Leda Zogbi, membros do “Projeto Paraíso” e da indicação do professor Dr. Rodrigo Lopes Ferreira, do Laboratório de Estudos de Biologia Subterrânea da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, Elver e os estudantes descobriram o local da vértebra e que a própria rocha da caverna também continha fósseis, um tipo de ocorrência incomum no Brasil. Esses fósseis são de invertebrados marinhos, como corais, moluscos e lírios-do-mar, e datam do período carbonífero (entre aproximadamente 350 e 300 milhões de anos atrás).

Segundo Elver Mayer, a procura dos fósseis do quaternário (conhecido como “Era do Gelo”, que iniciou há aproximadamente 2,7 milhões de anos atrás e dura até os dias atuais) nas cavernas do Pará foi realizada através de uma varredura visual nos pisos, paredes e tetos. Na caverna Paraíso foi encontrada a vértebra de um animal de grande porte, de uma família de preguiças gigantes chamada Mylodontidae. Quando vivas, essas preguiças gigantes deveriam apresentar entre três e quatro metros de altura e podiam pesar até duas toneladas.

(Foto: divulgação)

“Registros antigos dessa família de preguiças gigantes na região amazônica são de uma época chamada mioceno (desde aproximadamente 23 até 5 milhões de anos atrás). Porém, de acordo com o que pudemos verificar até o momento, não há registros confirmados da ocorrência na Amazônia para o período quaternário. Para esse intervalo de tempo, a família foi identificada em várias regiões da América do Sul, como em partes da Argentina, Paraguai e Uruguai, no Rio Grande do Sul, à oeste da Amazônia, no litoral do Equador e Peru e nas regiões sudeste e nordeste do Brasil. Se isso se confirmar, com esse registro da caverna Paraíso, poderemos constatar que a área geográfica em que essa família de preguiças gigantes viveu durante o quaternário também se estendeu à região amazônica”, analisa o pesquisador.

Para saber mais sobre essa preguiça e entender sobre suas relações de parentesco com outras espécies de preguiças gigantes, o projeto realiza um processo de análise do seu DNA no laboratório gerido pelo coordenador do LAAAE-USP, o Dr. André Strauss, que é parceiro do Gepaleo nos projetos financiados pela Fapespa.

“Apesar de todos os esforços e resultados obtidos, ainda não encontramos um sítio adequado para uma escavação detalhada no Pará. Afinal, os fósseis só se formam em condições excepcionais e estão sujeitos à destruição pela erosão durante milhares de anos, de forma que encontrá-los em grande quantidade é o equivalente a ganhar na loteria. E para ganhar temos que apostar! Felizmente, um dos projetos financiados pela Fapespa está em andamento e nele a nossa aposta de realizar o achado de um sítio paleontológico ainda mais impactante. Assim, poderemos fazer novas descobertas e revelar para a população em geral um tanto mais sobre o que o patrimônio paleontológico do Pará preservou da história evolutiva da Amazônia”, disse Elver Mayer.

Apoio à pesquisa

A estruturação do laboratório do Gepaleo-Unifesspa, com o investimento da Fapespa, trouxe condições básicas para Elver e outros pesquisadores continuarem os estudos paleontológicos e gerarem produtos científicos de excelência. Como exemplo, foi realizado um trabalho com fósseis de um dinossauro do período cretáceo inferior (entre 145 e 100 milhões de anos), que foi escavado em 2021 pelo Gepaleo no Maranhão. A descoberta teve repercussão internacional, mais um exemplo de como o Pará tem proporcionado a geração de conhecimento em seu território e para além dele.

(Foto: divulgação)

“O financiamento recebido pelo Gepaleo, através da Fapespa, possibilita que instituições legitimamente paraenses e que são relativamente novas e situadas fora da área metropolitana da capital, como é o caso da Unifesspa, produzam ciência de vanguarda e avancem no sentido de se equiparar com as grandes universidades do país. Com isso, fica evidente que a Fapespa dá um grande passo que a aproxima do elevado nível de produção científica subsidiado pelas agências de fomento dos grandes centros financeiros do Brasil”, completa Elver.

De acordo com o diretor-presidente da Fapespa, Marcel Botelho, o governo do Pará, através da Fundação, tem investido cada vez mais em ciência nas mais diferentes áreas, que tragam um conhecimento cada vez maior sobre o desenvolvimento da Amazônia no presente, passado e futuro.

“A Amazônia é uma região rica e cheia de muitos detalhes. A pesquisa traz informação não só sobre o futuro da região, mas também a compreensão do passado, dos habitantes, da fauna e flora, o que nos ajuda a entender o presente e quais os caminhos para o futuro. A Fapespa se torna extremamente importante ao fomentar projetos como este de paleontologia, de uma universidade nova, no interior da Amazônia, mas com pesquisadores brilhantes. São estudantes de curso de graduação, iniciando a carreira científica, mas que trarão grandes contribuições em um futuro bem próximo”, afirma Marcel Botelho.

 

Fonte: FAPESPA (Por: Gustavo Pêna/Ascom Fapespa)

 

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