As causas e consequências da seca histórica nos rios da bacia hidrográfica rondoniense, em especial, o rio Madeira fazem parte de uma pesquisa que aponta fatores antropogênicos e naturais; responsáveis pela seca dos rios. O aquecimento desproporcional entre os oceanos Atlântico Norte e Sul gera uma diferença que interfere na formação de nuvens de chuva na região Amazônica, crucial para a manutenção dos níveis dos rios durante todo o ano.
Desenvolvida pelo pesquisador João Paulo Assis Gobo, vinculado à Fundação de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa (Fapero) e líder do Grupo de Pesquisas em Bioclimatologia e Mudanças Climáticas na Amazônia da Universidade Federal de Rondônia (Unir), além de membro do Grupo de Pesquisa em Climatologia do Laboratório de Climatologia e Biogeografia (LCB) da Universidade de São Paulo (USP), a pesquisa apresenta fatores antropogênicos e naturais, responsáveis pela seca dos rios. Caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, o El Niño acontece com frequência a cada dois a sete anos. Sua duração média é de doze meses, gerando um impacto direto no aumento da temperatura global.
João Paulo Assis Gobo pesquisa fenômenos meteorológicos e os efeitos climáticos. Ao longo de 2023, foram observadas temperaturas recordes na superfície dos oceanos por conta do El Niño. Desde maio do ano passado, os registros térmicos no Oceano Pacífico Equatorial subiram de 0,5 °C acima da média para cerca de 1,5 °C acima da média, em setembro.
Os níveis de água do Madeira em Porto Velho, são os mais baixos em 56 anos, quando se iniciaram as medições no rio. Há quase um ano, o curso d’água, um dos maiores afluentes do rio Amazonas atingiu a cota de 1,44 metro, a menor em 17 anos. A marca, porém, chegou a 1,17 metro.
Previsão
Segundo explanado pelo pesquisador, a seca histórica dos rios da bacia hidrográfica rondoniense tem gerado consequências severas à população, com milhares de pessoas sem água e com dificuldades em obter alimentos, que o transporte hidroviário está comprometido. Já os peixes precisam mudar seu ciclo e buscar “rotas de fuga” para sobreviver. Entre os rios afetados estão o Candeias, Guaporé, Jamari, Mamoré, Machado, Madeira e Pirarara. Estes não só sustentam a biodiversidade local, mas também são vitais para as atividades econômicas da região, incluindo a agricultura e a hidroeletricidade.
O período chuvoso compreendido entre o final do ano de 2023 e os três primeiros meses de 2024, não foram suficientes para a recarga pluviométrica, ou seja, as precipitações ficaram abaixo do normal em toda a região Amazônica durante o período crucial para recarga dessa chuva que estava necessitando a região.
Conforme a pesquisa, a previsão para 2024, que está acontecendo, infelizmente é ainda pior, e, a partir de outubro, a configuração do fenômeno La Niña, oposto ao El Niño; fenômeno oceânico e atmosférico caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico. O La Niña tende a criar condições de seca em muitas partes do mundo, a exemplo do Sul do Brasil, enquanto traz chuvas em excesso para outras áreas, como o litoral do Nordeste e a Amazônia.
O pesquisador ponderou que o fenômeno La Niña só deve ocorrer em Rondônia no final de 2024, trazendo chuvas em quantidades otimistas para os rios da Amazônia, em especial da bacia hidrográfica rondoniense, porém os próximos meses não serão bons com a esperada seca histórica.
Aquecimento
Além disso, o aquecimento global potencializa os eventos extremos como a seca e o processo de ressecamento do bioma. Estudos comprovam que o aquecimento global tem papel mais devastador na seca dos rios se comprado ao fenômeno climático El Niño, ou seja, as alterações climáticas estão modificando a reciclagem de umidade da floresta amazônica, interferindo diretamente nos processos hídricos da região e potencializando os períodos de secas. O aquecimento global do planeta interfere nas chuvas na região amazônica, atingindo os rios de Rondônia que são formados sobretudo pelos deslocamentos de massas de ar provenientes não do Oceano Pacífico, mas do Atlântico.
A população ribeirinha e as comunidades tradicionais indígenas são uma das mais afetadas, pois essas comunidades que dependem das vias fluviais da floresta Amazônica ficam isoladas, sem acesso a combustível, alimentos ou água filtrada. Outro agravante está relacionado aos problemas de acessibilidade, visto que os moradores das comunidades ribeirinhas enfrentam obstáculos para sair e voltar às suas comunidades e, por fim atingindo sua subsistência, pois dependem dos recursos naturais da região que acaba sendo afetado com a estiagem.
Neste viés, o pesquisador João Paulo Assis Gobo deixa um importante apelo: a preservação da Amazônia é essencial para o equilíbrio climático, principalmente das comunidades tradicionais que utilizam dos recursos naturais para sobreviverem e população das áreas urbanas, as quais já sentem os efeitos e reflexos da seca histórica do rios que compreendem a bacia hidrográfica de Rondônia.
“Se conseguirmos reduzir a nossa taxa de desmatamento e estimular o retorno de vegetação na área que foi desmatada, podemos ter um efeito e tentar reverter esse trágico cenário para uma região que sempre foi compreendida como abundante em suas águas“, finalizou o pesquisador.
Fonte: FAPERO (Por: Victória Angelo Bacon/ Ascom Fapero)