| Em 09/08/2024

Fapeg impulsiona inovação na certificação digital de produtos agrícolas em Goiás

Metodologia da identidade digital está sendo elaborada para tomate de mesa (Foto: Divulgação)

Referência em tecnologia para aplicação na agropecuária, o Estado de Goiás está se preparando para ocupar uma posição de vanguarda na produção de alimentos. Pesquisadores estão desenvolvendo tecnologia de modelagem para a criação da certificação digital que vai garantir a identificação de qualidade nutricional e a origem de produtos agrícolas comercializados em Goiás com o uso da técnica de Espectroscopia do Infravermelho Próximo (NIR). A tecnologia vai trazer inovação e eficiência para os processos agrícolas e criar uma espécie de “impressão digital” dos produtos.

O projeto promete um impacto significativo não apenas na segurança e qualidade dos alimentos produzidos em Goiás, mas também na economia regional e no avanço da pesquisa e educação agrícola. A proposta é desenvolver uma tecnologia não destrutiva, sem uso de reagentes químicos e em tempo real, para avaliar a qualidade dos alimentos produzidos no Estado. Os métodos tradicionais para avaliar a qualidade de produtos agrícolas são demorados, com destruição das amostras e uso de reagentes químicos.

Num primeiro momento, a metodologia da identidade digital está sendo elaborada para tomate de mesa devido à sua relevância econômica para o Estado de Goiás, mas poderá ser aplicada em outras culturas trazendo grande benefício ao agronegócio em pequenos espaços, servindo de boas práticas de produção, comercialização e gestão em hortaliças produzidas em solo goiano. A metodologia, precisa e eficiente, vai avaliar aspectos como doçura, acidez, teor de antioxidantes, tempo de prateleira e rastreabilidade dos produtos.

Fomento da Fapeg

O papel da pesquisa é fundamental nesse processo de desenvolvimento da identidade digital. Neste contexto, o Estado de Goiás, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) firmou parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG)/ Escola de Agronomia e Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape). A Fapeg está investindo um total de R$ 308 mil no projeto (R$ 200 mil para material de consumo e R$ 108 mil para bolsa de estudo de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – DTI-B). O professor Luis Carlos Cunha Junior, da UFG, está na coordenação geral do projeto e conta com a parceria da professora Abadia dos Reis do Nascimento, especialista em tomaticultura, também da UFG.

A tecnologia está sendo desenvolvida em parceria com o professor Gustavo Henrique de Almeida Teixeira, atualmente professor na University of Ifaho, USA. Tem ainda como instituições colaboradoras: o Instituto Federal Goiano (IF Goiano), Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater); Universidade Federal de Uberlândia; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Hortaliças); e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).

Os pesquisadores estão focados em desenvolver algoritmos de aprendizado de máquina e inteligência artificial que serão implementados dentro de um espectrômetro portátil, no caso o modelo F-750. Como o equipamento não vem com parâmetros de modelagem pré-definidos, os pesquisadores estão realizando a análise de qualidade de cada fruto, individualmente, a partir dos espetros NIR coletados e, a partir destes dados serão programados os algoritmos de inteligência artificial, de modo a ensiná-los a reconhecer padrões de qualidade dos produtos agrícolas comercializados em Goiás. O professor Cunha Junior explica que a escolha do uso da espectroscopia do infravermelho próximo proposta veio da expertise adquirida por ele durante o pós-doutorado na Central Queensland University, Austrália.

A tecnologia desenvolvida permitirá avaliar a qualidade dos tomates desde a pré-colheita até a prateleira do supermercado, contribuindo para uma colheita no momento ideal e garantindo a qualidade dos produtos. Além disso, a tecnologia auxiliará os órgãos de fiscalização na rastreabilidade dos produtos, enfrentando o desafio dos diferentes comportamentos fisiológicos dos produtos vegetais in natura. “Esta abordagem inovadora tem o potencial de melhorar significativamente a qualidade dos produtos agrícolas de Goiás, beneficiando produtores e consumidores finais, ressalta o pesquisador.”

O que é a Espectroscopia de Infravermelho Próximo

O professor Cunha Junior explica que a Espectroscopia de Infravermelho Próximo (NIR) é uma técnica que permite analisar principalmente amostras orgânicas por meio da emissão de radiação eletromagnética no infravermelho próximo, com comprimentos de onda entre 780nm a 2500nm. Essa radiação interage com as ligações das moléculas, como C-H, N-H, S-H e O-H, tornando a técnica útil para a determinação de compostos orgânicos. Ele ressalta que essa interação não causa mudanças nos vegetais.

Segundo ele, a técnica funciona medindo a luz dispersa por uma amostra devido às vibrações das moléculas. Os espectros de refletância NIR podem ser usados para determinar rapidamente as propriedades de um material sem alterar a amostra, convertendo os dados medidos em informações úteis para otimização de processos e pesquisa.

“No contexto do nosso projeto, utilizamos essa técnica para determinar a qualidade interna dos vegetais in natura. A espectroscopia NIR é especialmente útil na análise de alimentos, incluindo vegetais frescos, pois permite analisar diversos componentes em uma única varredura. Parâmetros como umidade, pH, lactose, glúten, cinzas, proteína, açúcares e porcentagem alcoólica podem ser determinados em questão de segundos”, esclarece.

Apoio da Fapeg

“O apoio da Fapeg ao projeto é de suma importância para o desenvolvimento tecnológico no estado de Goiás. Desde minha chegada em 2015 como docente da UFG, o suporte financeiro fornecido pela Fapeg tem sido essencial para possibilitar os avanços que alcançamos até o momento. Hoje, nosso Laboratório de Tecnologia Pós-Colheita de Frutas e Hortaliças conta com um parque tecnológico onde 70% dos equipamentos são provenientes de projetos financiados pela Fapeg”, declara o professor.

Além do suporte financeiro, o professor ressalta o papel fundamental da Fundação na manutenção de pesquisadores qualificados para auxiliar nas atividades propostas. Isso é possível por meio das bolsas de incentivo à pesquisa oferecidas, que permitem a continuidade e aprofundamento dos estudos em diversas áreas do conhecimento. “É inegável a importância do apoio da Fapeg para o sucesso e a realização do nosso projeto. Sem esse suporte, muitos dos avanços tecnológicos e científicos que alcançamos até o momento não teriam sido possíveis”.

Benefícios

Segundo Cunha Junior, a tecnologia desenvolvida vai proporcionar benefícios significativos para diversos públicos. O pesquisador explica que, para os produtores, a tecnologia proposta permitirá determinar o momento ideal de colheita dos produtos agrícolas, garantindo maior resistência ao transporte, prolongando o tempo de comercialização e, consequentemente, oferecendo produtos de melhor qualidade ao consumidor. “Atualmente, a colheita muitas vezes é baseada na experiência do produtor, o que pode resultar em frutas colhidas antes ou posterior ao ponto ideal, resultando em grandes perdas econômicas”, detalha o professor.

Para o consumidor, a classificação dos produtos com base em critérios como teor de licopeno ou doçura proporcionará uma escolha mais assertiva, permitindo que escolham produtos que atendam às suas preferências individuais e necessidades nutricionais. “Isso pode levar a um aumento na demanda por produtos agrícolas de alta qualidade, o que beneficia diretamente os produtores”, ressalta. Segundo ele, a transparência na qualidade e origem dos produtos será significativamente ampliada para o mercado consumidor, promovendo uma relação mais confiável e consciente entre produtores, comerciantes e consumidores.

“Antecipamos, também, um aumento na renda das famílias agrícolas, já que a valorização de seus produtos, certificados pela identidade digital, poderá atrair um mercado mais exigente em relação à qualidade e origem dos alimentos”.

“A identidade digital desenvolvida poderá ser adotada como uma ferramenta de fiscalização para os produtos agrícolas comercializados no Estado de Goiás, oferecendo garantias de qualidade e origem. A tecnologia proposta oferece uma ferramenta de resposta instantânea para garantir a conformidade dos produtos com as regulamentações, facilitando a rastreabilidade e identificando rapidamente qualquer produto que não esteja em conformidade com as leis”, explica o professor. Segundo ele, isso proporcionará maior agilidade nas operações de fiscalização, garantindo a segurança dos consumidores e a integridade do mercado”, esclarece ainda. A equipe de pesquisadores espera que a identidade digital desenvolvida possa ser implementada pela Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) fortalecendo os mecanismos de controle, fiscalização e segurança alimentar na região.

“Para a Universidade, este projeto representa uma oportunidade única de estabelecer um laboratório pioneiro na utilização da espectroscopia do infravermelho próximo para análise de vegetais in natura no Estado de Goiás. Além disso, projeto proporcionará a formação de alunos de graduação e pós-graduação nessa linha de pesquisa, contribuindo para o desenvolvimento de recursos humanos capacitados para atuar no setor agrícola com foco em tecnologias de garantia de qualidade alimentar. Um bom exemplo, foi primeira aluna de doutorado envolvida na tecnologia, hoje atua desenvolvendo essa tecnologia no Brasil”.

Ele explica que o projeto fortalecerá, ainda mais, a parceria entre as instituições de ensino, pesquisa e extensão envolvidas, além de promover uma interação mais próxima com órgãos do governo e as associações de agricultores do Estado de Goiás. “Contamos com o apoio da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), assim como a colaboração do Dr. Lino Carlos Borges, que auxilia na interação com os produtores de tomate de três estados: Goiás, São Paulo e Minas Gerais”, diz o pesquisador.

Por fim, para o Estado de Goiás, Cunha Junior explica que a tecnologia pode ser fundamental na criação da primeira identidade digital de certificação de qualidade e origem dos produtos agrícolas, demonstrando de forma transparente informações importantes para os consumidores. “Isso não só agregará valor aos produtos do agronegócio regional, mas também abrirá portas para alcançar novos mercados e fortalecer a economia local”.

Resultados

O projeto começou a ser desenvolvido há três anos e deve ser concluído em 2025. “Até o momento, alcançamos importantes marcos no desenvolvimento do projeto”. Atualmente, o projeto encontra-se na etapa de análise quimiométrica e preparação dos artigos científico. Diversos resumos já foram publicados em eventos nacionais e internacionais.

“Esperamos consolidar uma nova linha de pesquisa, com a utilização de espectrômetro NIR portátil para a determinação de parâmetros de qualidade e identificação de origem, e consolidar o uso da espectroscopia NIR na pós-colheita de hortaliças, tendo como referência nacional o Laboratório de Tecnologia Pós-colheita de Frutas e Hortaliças da UFG-EA”, conclui Cunha Junior.

Fonte: FAPEG (Por: Ascom Fapeg)

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