| Em 05/06/2024

Aplicativo desenvolvido na Uerj aproxima produtores e consumidores de água de reúso no Rio de Janeiro

Com o REUSA, as concessionárias poderão informar o tipo e o volume de água regenerada disponível. As empresas interessadas poderão consultar, também, o preço e a localização da ETE onde o produto pode ser encontrado (Foto: Divulgação/Desma/Uerj)

As empresas que utilizam água de reúso em seus processos e atividades poderão contar, em breve, com uma ferramenta que visa aproximar produtores e consumidores desse tipo de produto. Pesquisadores do Departamento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente (Desma), da Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), desenvolveram um aplicativo para gestão e comercialização de água regenerada. A equipe, que contou com apoio da FAPERJ, acabou de concluir um protótipo do app, batizado de Reusa, que será testado por uma concessionária de saneamento que atua no Rio de Janeiro. 

A água de reúso é resultado de processos de tratamento realizados pelas Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e pode ser utilizada para combate a incêndios, geração de energia, irrigação, limpeza de logradouros públicos, atividades industriais ou outras finalidades menos nobres, que não necessitem de água potável. Além de ter um custo menor do que a água convencional, ela é uma alternativa para conservação dos recursos hídricos e uma opção para períodos de escassez.  

A ideia do aplicativo surgiu durante as atividades realizadas no Laboratório de Engenharia Sanitária (LES) da Uerj e de dissertações e TCCs que tinham como tema o reaproveitamento de efluentes para várias finalidades. “A proposta era estimular o reúso e um dos obstáculos para que isso aconteça é a falta de conexão entre vendedores e compradores”, explica Marcelo Obraczka, professor do Desma e um dos criadores do app. Também participaram da equipe, os professores Ian Andrade e Alfredo Akira Ohnuma Jr, e o engenheiro André Alcantara de Faria, que na época fazia mestrado e era orientando de Obraczka.

“O Reusa vai funcionar como uma espécie de marketplace. Ele é dotado de um sistema de georreferenciamento, por meio do qual as empresas interessadas poderão saber, em tempo real, o tipo de água de reúso disponível, o volume em estoque, o preço cobrado pela concessionária e a localização das ETEs onde a água de reúso estará disponível”, explica Obraczka, doutor em Planejamento Energético e Ambiental pela Coppe/UFRJ.

Além de aproximar as partes interessadas, a ferramenta de gestão dará maior visibilidade aos números do mercado de reaproveitamento de água no estado do Rio de Janeiro, cujos dados sempre foram escassos. Uma das bases para elaboração do app foi a dissertação de mestrado defendida, em 2020, por André Faria, que fez um mapeamento da oferta e da demanda de água de reúso na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) e identificou as indústrias que poderiam utilizar o insumo.

Atividades realizadas no Laboratório de Engenharia Sanitária da Uerj contribuíram para o desenvolvimento do app que estimula o reúso da água. (Foto: Divulgação/Desma/Uerj)

De acordo com o levantamento elaborado por Faria, as vazões de quatro das principais estações de tratamento de esgoto da RMRJ – Alegria, no bairro do Caju; Penha; Pavuna; e Sarapuí, em São João de Meriti – são suficientes para atender a demanda de um conjunto formado por 728 indústrias de transformação localizadas a um raio de 10 quilômetros dessas ETEs.

“O estudo constatou que muitas dessas indústrias podem ser atendidas por mais de uma estação de tratamento. Provou, também, o grande potencial de oferta de água de reúso em relação à demanda, o que mostra a viabilidade de atendimento a outros setores e diferentes segmentos industriais”, explica André Faria, que é engenheiro da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae).

O levantamento fez parte de um artigo publicado pelos pesquisadores do Desma, que mostrou o potencial das ETEs em fornecer águas regeneradas para empresas, indústrias e prefeituras, que, dessa forma, poderiam economizar recursos hídricos e reduzir seus custos. A venda do produto também representaria uma receita extra para as concessionárias, que após o tratamento, descartam a água no corpo hídrico. “O público-alvo seriam as empresas de médio porte, já que grandes companhias, como Ambev e Coca-Cola, por exemplo, já incluem o reúso dentro de seus próprios processos”, explica o professor Marcelo Obraczka.

Dotado de uma tecnologia inédita e inovadora, que já rendeu uma patente à Uerj, o Reusa pode ser utilizado em outros estados ou países. Basta aplicar a base de dados do local específico. O aplicativo é flexível e também pode servir para a gestão e comercialização de outros efluentes, como, eventualmente, o lodo proveniente das estações de tratamento, ou de produtos de outros setores. O aproveitamento do lodo gerado no processo de tratamento da água, aliás, será o tema da tese de doutorado que Faria vai defender, também, orientado por Obraczka.

André Faria (à esq.) e o seu orientador, o professor Marcelo Obraczka, integraram a equipe que desenvolveu o REUSA. (Fotos: Divulgação/Desma/Uerj)

O desenvolvimento do Reusa contou com fomento da FAPERJ, por meio do Programa de Apoio às Universidades Estaduais do Rio de Janeiro, e de outros agentes, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), por intermédio do programa Catalisa ICT.

A utilização do protótipo nas ETEs deverá começar nos próximos meses.  A expectativa da equipe do Desma/Uerj é de que, após o período de testes, sejam feitos novos ajustes, para que a versão comercial do aplicativo esteja disponível em meados de 2025. Segundo o professor Marcelo Obraczka, a Uerj ainda está estudando a melhor forma de comercializar o app, o que poderá ser feito por meio de assinatura, pagamento de um percentual do valor cobrado pelas concessionárias, licenciamento ou mesmo por patrocínio de empresas parceiras.

Fonte: FAPERJ (Por: Marcos Patricio/ Ascom Faperj)

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