
Se há na floresta brasileira uma árvore para ser chamada de gigante pela própria natureza, podemos destacar a Seringueira (Hevea Brasiliensis). Podendo chegar até 30 metros de altura e 60 de espessura, é dela que se extrai historicamente o látex. No Distrito Federal, suas propriedades naturais de regenerar tecidos foram combinadas à luz de LED e, expostas em ambientes controlados. O resultado é um ganho inovador para a ciência aplicada à saúde.
O estudo une engenharias e biologia e é liderado pela Professora Doutora Suélia Rosa, da Universidade de Brasília (UnB) com fomento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). A pesquisa intitulada “Organ-on-a-Chip”, em tradução livre “Órgão em Chip”, é utilizada no aperfeiçoamento de medicamentos contra doenças vasculares.
Como funciona?
O aparelho batizado de Chip-ENY é o protagonista dessa descoberta. Ele foi desenvolvido para simular o comportamento celular e as respostas aos estímulos, permitindo o estudo detalhado de processos biológicos, como a angiogênese e a regeneração tecidual.
Em contato com o látex e a luz de LED, a tecnologia permite a observação de quantidades minúsculas de líquido circulando por canais extremamente finos, mais estreitos que um fio de cabelo, com o fluxo controlado por válvulas. Com essa ferramenta, os pesquisadores podem avaliar como as proteínas do látex estimulam a formação de novos vasos sanguíneos, abrindo caminho para avanços no tratamento de feridas crônicas e regeneração de tecidos.
A longo prazo, essa inovação pode aumentar a segurança no desenvolvimento de novos medicamentos, contribuir para a prevenção de doenças e reduzir a necessidade de testes em animais.
Na ciência toda solução parte de um princípio, Suélia explica que outro equipamento desenvolvido anteriormente pelo Núcleo de Pesquisas que coordena na UnB é o Rapha, que está em fase de registro na ANVISA, para que possa ser usado no sistema de saúde. “O equipamento combina curativos de látex e emissão de luz LED para acelerar a cicatrização de feridas em pacientes com diabetes, um problema grave que afeta muitas pessoas”, afirma.

“Os próximos passos envolvem a análise dos resultados e a possibilidade de transferência tecnológica, abrindo caminho para uma produção em escala. O que me inspira nessa trajetória é ver que a pesquisa translacional pode, de fato, sair dos laboratórios e se transformar em soluções concretas para a saúde pública. E, como mulher pesquisadora, espero que essa jornada possa incentivar outras cientistas a acreditarem no impacto que a ciência pode ter na vida das pessoas”, destacou a coordenadora da pesquisa.
Referência Feminina
A Professora Doutora Suélia Rosa, que está à frente do Núcleo de Pesquisas que conduz o estudo, acredita que ser uma pesquisadora na engenharia biomédica vai muito além de desenvolver tecnologias e levar soluções disruptivas e inovadoras para a saúde, é também sobre abrir caminhos, inspirar e mostrar que é possível transformar ideias em soluções reais, impactando vidas e incentivando outras mulheres a fazerem o mesmo.
Sua trajetória passa por gigantes da tecnologia como a Siemens e também pela rede SARAH de unidades hospitalares especializada no atendimento de vítimas de politraumatismos e problemas locomotores.
“Sei que a ciência e a tecnologia podem parecer, às vezes, distantes e até intimidadoras (…) O que mais me motiva é ver estudantes descobrindo seu potencial, se apaixonando pela engenharia biomédica e percebendo que cada circuito, cada protótipo e cada experimento tem um impacto muito maior do que imaginamos”, reforça a professora.
“Se meu trabalho puder inspirar uma nova geração de pesquisadores no DF e no Brasil a acreditarem no seu talento, ocuparem esses espaços e a construírem um futuro mais inovador e inclusivo na ciência e na saúde, então sentirei que minha missão está sendo cumprida. A tecnologia sozinha não muda o mundo – são as pessoas, com sua paixão e dedicação, que fazem isso acontecer”, finaliza.
Destaque Científico
Em 2024, a pesquisa recebeu moção de louvor pela Câmara Legislativa do Distrito Federal e conquistou o primeiro lugar no IX Congresso Brasileiro de Prevenção e Tratamento de Feridas, na modalidade apresentação oral e categoria Pós-Graduação. Antes, em 2022, ganhou menção honrosa do Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia.
No Prêmio de Inovação Darcy Ribeiro recebeu premiação nas edições Isaías Raw e Marco Antônio Raupp, nas categorias Tecnologia de Impacto Social e Ambiental e Mulheres na Ciência, respectivamente nos anos de 2024 e 2022.
Além de ganhar destaque no Prêmio Confap (Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa) com o segundo lugar de pesquisador inovador em 2022 na categoria Inovação para o Setor Empresarial. No prêmio FAPDF de Ciência, Tecnologia e Inovação conquistou em dois anos consecutivos, 2022 e 2023, o primeiro lugar nas categorias Pesquisador Inovador no Setor Produtivo.
Para o Presidente da FAPDF, Marco Antônio Costa Júnior, o desempenho ilustra a posição de protagonismo do Distrito Federal nas ciências voltadas para a saúde. “A tecnologia é reconhecida por sua alta performance, reconhecida pelos especialistas em escala nacional e também fora do país, já que é uma pesquisa que interage com outros Centros de Pesquisa ao redor do mundo. É nessa direção que enxergamos a potência desse estudo e acreditamos que ele pode cada vez mais impactar a inovação na saúde”, destacou o presidente da Fundação.
Fonte: FAPDF (Por: Mariah Brandt/ Ascom Fapdf)
Imagens: ADM/Organ.on.a.chip – Projeto Organ.on.a.chip