| Em 16/11/2023

Startup financiada pela Fundect desenvolve corante a partir de microorganismo do Pantanal

(Foto: Leandro Benites/ Fundect)

Com as exigências crescentes dos consumidores, a demanda por produtos naturais e sustentáveis vem aumentando a cada dia. É neste contexto que a startup Arandu Biotecnologia inova ao desenvolver um corante vermelho intenso, natural, obtido com tecnologia limpa, seguro à saúde e de origem pantaneira.

Tudo começou em um laboratório da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) a partir de uma linha de pesquisa que buscava substâncias bioativas de interesse no bioma sul-mato-grossense. Os pesquisadores Arthur Ladeira Macedo, Denise Brentan da Silva e Edson dos Anjos dos Santos se depararam com seres microscópicos que produziam colorações naturais.

Uma cepa em especial chamou mais atenção por produzir uma substância vermelha. Depois de vários testes, os pesquisadores viram ali um potencial produto e decidiram unir suas expertises nas áreas de química e farmácia para desenvolver a biotecnologia do corante.

O coordenador do projeto, pesquisador doutor Arthur Ladeira Macedo. (Foto: Leandro Benites/ Fundect)

“Apesar da mesma espécie existir em outros locais, a cepa do Pantanal que identificamos é singular por ser um indivíduo com características únicas, que ao longo do tempo se adaptou àquele ambiente em específico, com influência de solo, clima, umidade, entre outros fatores. Por isso, podemos dizer que é uma cepa pantaneira”, destaca o pesquisador doutor Arthur Ladeira Macedo, coordenador do projeto, com experiência em produtos naturais bioativos.

O impulso para transformar a pesquisa em inovação veio da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul). A Arandu foi uma das startups selecionadas do Programa Centelha- MS II, parceria da Fundect com a Finep que apoia com subvenção econômica empresas inovadoras de base tecnológica.

“Empreender foi um grande passo para nós que somos do meio acadêmico. A ajuda da Fundect neste começo tem sido fundamental para que possamos desenvolver e validar nossa tecnologia”, destaca Denise Brentan da Silva, doutora em Ciências de Produtos Naturais e Sintéticos.

Segundo a pesquisadora, a substância vermelha produzida pelo microorganismo encontrado no Pantanal tem vantagens físico-químicas em relação a outros corantes naturais, como cor intensa, estabilidade e solubilidade em água, características interessantes para os mercados alimentício, cosmético e até têxtil.

A doutora em Ciências de Produtos Naturais e Sintéticos, Denise Brentan da Silva. (Foto: Leandro Benites/ Fundect)

“Temos outros pigmentos naturais bastante conhecidos aqui no Brasil, como o urucum, por exemplo, mas ele não é solúvel em água o que dificulta a aplicação em diversos produtos, além de sofrer degradação e assim ter problemas com relação à estabilidade”, explica Denise Brentan da Silva.

O corante desenvolvido pela Arandu é baseado na bioeconomia, que utiliza recursos naturais e novas tecnologias com propósitos de criar produtos e serviços mais sustentáveis. O doutor em Química Edson dos Anjos dos Santos explica que o processo de fabricação do corante é feito totalmente em laboratório, a partir de uma cepa do microrganismo, sem necessidade de exploração do bioma.

“Ali damos as condições ideais para ele se multiplicar e produzir o corante. É uma produção limpa, orgânica, sem matérias primas de base animal, sem necessidade de uma área agricultável e sem a utilização de solventes como acontece na produção dos corantes artificiais”, ressalta.

Todas estas características tornam o produto um concorrente de peso para substituir o carmim de cochonilha, hoje o corante vermelho natural de melhor qualidade e mais utilizado pela indústria mundial, produzido a partir do inseto Dactylopius coccus.

O doutor em Química Edson dos Anjos dos Santos. (Foto: Leandro Benites/ Fundect)

“O Peru é responsável por 80% da produção mundial de cochonilha para corante. Os insetos são criados em áreas de plantação de palmas, mas por serem pragas agrícolas são proibidos em muitos países, inclusive no Brasil, o que torna o produto extremamente caro”, explica  Santos.

Arthur Ladeira Macedo, coordenador do projeto, lembra ainda que o carmim de cochonilha é reprovado pelo crescente mercado vegano e também possui restrições nas culturas kosher e halal que, por questões religiosas, não aceitam produtos à base de insetos.

“Nosso produto se encaixa completamente no conceito de ESG, Ambiental, Social e Governança, e isso facilita a entrada na Europa e EUA que são hoje os mercados que mais demandam essas alternativas. Também pode, no futuro, atender os mercados crescentes do oriente”.

Por enquanto o corante vermelho é o carro chefe da startup que está aperfeiçoando o processo de produção para ganhar escala, fazendo testes para registros e buscando parcerias para validar o uso nos mais diversos produtos.  Mas a busca por novos bioativos continua.

“A Arandu é baseada na biodiversidade, por isso é importante pensarmos em estratégias de conservação. Podemos perder riquezas únicas sem nem sequer tê-las estudado e nem sempre a ciência já desenvolveu tecnologias suficientes para conseguir compreender todo o seu potencial”, reforça Denise Brentan da Silva.

Nalvo Franco de Almeida Jr, Diretor Científico da Fundect, ressalta a importância de projetos como esse. “A startup Arandu nos mostra que é possível promover a bioeconomia em sua verdadeira essência, gerando tecnologia para futuras práticas sustentáveis que sejam capazes de balancear desenvolvimento econômico com conservação ambiental. Esse é um dos princípios dos critérios ESG e essa tendência não tem mais volta. Projetos assim terão cada vez mais chance de conseguir recursos públicos ou privados para inovar”.

Além do apoio da Fundect, a Arandu recebe suporte da Pantanal Incubadora Mista de Empresas (PIME) da UFMS e está no programa de aceleração da Startup Sesi, do Sistema FIEMS.

 

Fonte: FUNDECT (Por: Maristela Cantadori/ Ascom Fundect)

 

SIGA O CONFAP NAS REDES SOCIAIS:  

    

Leia também

Em 15/08/2025

Fapepi e FUMDHAM reforçam parceria para fortalecimento da pesquisa

O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), João Xavier, visitou na terça-feira (05), as instalações da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), em São Raimundo Nonato (PI), região conhecida mundialmente por seu patrimônio arqueológico e paleontológico. Durante a visita, Xavier foi recebido pela diretora-presidente da FUMDHAM, Anne-Marie Pessis, pela […]

Em 14/08/2025

Programa Centelha e Fundação Wadhwani lançam capacitação para empreendedores

O Programa Centelha, iniciativa nacional que incentiva a transformação de ideias inovadoras em negócios com potencial, lançou na última semana uma capacitação online e gratuita voltada para empreendedores que desejam se preparar para os editais da nova edição do programa. Desenvolvida em parceria com a Fundação Wadhwani, a Trilha Pré-Centelha possui duração de três semanas e tem como […]

Em 14/08/2025

Grupo de pesquisa mineiro cria produtos inovadores a partir da fermentação

O processo de fermentação já é conhecido pela humanidade há milhares de anos. A técnica ancestral que permite a modificação e preservação de alimentos está na mesa dos mineiros desde o queijo à dose da cachaça. Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos […]

Em 13/08/2025

Pesquisa da UFMT estuda uso de amêndoa de castanha de caju-do-cerrado na produção de bebidas vegetais fermentadas e pastas cremosas

Um projeto de pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que recebe apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), investiga o potencial da amêndoa de castanha de caju-do-cerrado na formulação de novos alimentos vegetais. Segundo o coordenador do projeto, doutorando Cézar da Silva Guerra, do Programa de Pós-Graduação […]

Em 13/08/2025

Startup tocantinense participa de programa internacional na Colômbia e inicia articulação para cooperação em agricultura urbana

Apoiada pelo Governo do Tocantins, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Tocantins (Fapt), a startup Hortcity Agricultura Urbana integrou a programação oficial do Programa Distrital de Agricultura Urbana e Periurbana de Bogotá, na Colômbia. A participação marca o início de uma cooperação internacional que abre portas para parcerias em diversas frentes. Coordenada […]

Em 15/08/2025

British Council abre inscrições para o Research Environment Grants 2025-26

Estão abertas as inscrições para o edital Research Environment Grants 2025-26 do British Council, oportunidade para desenvolvimento de capacidades e atividades de colaboração entre instituições de ensino superior do Reino Unido e Brasil, com financiamento de até £40.000,00 por projeto. Parte do programa Going Global Partnerships, o edital visa contribuir para a criação de novos […]