| Em 30/08/2016

Pesquisadores da UFC publicam artigo sobre uso de agrotóxicos em revista internacional

Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV) publicaram o artigo “The legacy of organochlorine pesticide usage in a tropical semi-arid region (Jaguaribe River, Ceará, Brazil): Implications of the influence of sediment parameters on occurrence, distribution and fate” na edição de janeiro da revista Science of the Total Environment (Elsevier).

A pesquisa é resultado da dissertação de mestrado do hoje doutor em Ciências Marinhas Tropicais pelo Instituto de Ciências do Mar (Labomar/UFC) André Oliveira, autor principal do artigo, orientado pelo professor Rivelino Cavalcante, também do Labomar.

De acordo com os pesquisadores, entre os anos 1940 e 1990, grandes quantidades de pesticidas organoclorados (OCPs) foram utilizados em campanhas de controle de doenças endêmicas e agricultura nas regiões semiáridas tropicais do Brasil.

Agrotóxicos como DDTs e HCB foram banidos desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, porém, isso ocorreu no Brasil somente no fim da década de 1990. O estudo avaliou o resultado do uso de tais agrotóxicos no Rio Jaguaribe e foi realizado a partir de Limoeiro do Norte até a foz do rio, em Fortim.

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“Essas substâncias foram por longo tempo utilizadas na agricultura, porém, foi no combate às pragas endêmicas (febre amarela, malaria, entre outras) o seu maior uso no Norte e Nordeste do Brasil. Levando em consideração que o Brasil foi o terceiro maior usuário dessas substâncias do mundo, o trabalho foi pioneiro em mostrar que apesar do tempo de proibição, os ambientes aquáticos do semiárido cearense ainda estão contaminados com essas classes de substâncias”, explica o professor Rivelino Cavalcante.

A pesquisa foi desenvolvida dentro do projeto “Desenvolvimento metodológico e avaliação do impacto promovido pelo uso de agrotóxicos no Município de Limoeiro do Norte”, coordenado pelo professor Rivelino e apoiado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) por meio do Edital 04/2009 – Programa Primeiros Projetos (PPP). Outras pesquisas relacionadas ao uso de agrotóxicos foram produzidas com apoio da Funcap, dentro do mesmo projeto.

Inventário de agrotóxicos e risco de contaminação química dos recursos hídricos no semiárido cearense

O inventário de agrotóxico é o primeiro a contar com dados sobre os agrotóxicos lançados em uma das maiores áreas agrícolas do estado do Brasil, na Região da Bacia do Rio Jaguaribe, no Ceará. “Esse trabalho teve grande repercussão na mídia em virtude do fato de ser desconhecida a grande quantidade de agrotóxicos usados nas regiões agrícolas do país, e por mostrar uma realidade desconhecida no país”, destaca Rivelino.

O trabalho “Inventário de agrotóxicos e risco de contaminação química dos recursos
hídricos no semiárido cearense” foi publicado no volume 36 da revista Química Nova. O inventário desponta como uma ação ligada à gestão ambiental, uma vez que não é possível avaliar o impacto de uma atividade econômica sem conhecer o que é lançado no meio ambiente.

Os pesquisadores verificaram o uso de 201 pesticidas, compreendendo 151 ingredientes  ativos. Três tipos encontrados têm uso proibido pelo Min istério da Agricultura. De acordo com o estudo, 13,2 % a 36,4 % dos ingredientes ativos avaliadas foram classificadas como potenciais contaminadores das águas subterrâneas.

“O grande número de agrotóxicos administrados nessa região é reflexo do aumento da área de plantio, impulsionado pelo crescimento no agronegócio e pela melhoria e incentivos ao médio e pequeno agricultor”, explicam os autores na nota técnica.

Segundo o inventário, de 40% a 60% dos agrotóxicos usados nas regiões estudadas são de médio e alto risco ambiental. “Esses dados mostram também que a adoção por agrotóxicos mais ‘potentes’ (mais tóxicos e de maior perigo ambiental) parece ser predominante e crescente, que práticas alternativas estão sendo abandonadas e políticas agrícolas de conscientização não estão funcionando ou o levantamento e discussão do problema pela mídia e setores não está surtindo nenhum efeito”, questionam os pesquisadores.

Contaminação de ambientes aquáticos por “agrotóxicos urbanos”: o caso dos rios Cocó e Ceará

Os produtos usados no combate às pragas urbanas apresentam os mesmos princípios ativos dos produtos agrícolas usados no campo. Entretanto, recebem outra denominação: produtos domissanitários ou saneantes domissanitários. Eles são o foco do artigo “Contaminação de ambientes aquáticos por “agrotóxicos urbanos”: o caso dos rios Cocó e Ceará, Fortaleza – Ceará, Brasil”, publicado no volume 38 da revista Química Nova. Segundo o estudo, oriundo do trabalho de conclusão de curso da aluna do Curso de Oceanografia Wersângela Duaví, os dois rios estão com altos
níveis de substâncias usadas no controle de pragas urbanas, jardinagem e em atividades domésticas.

Os pesquisadores selecionaram três pontos amostrais em cada rio, distribuídos em um ponto na zona estuarina, outro em área de manguezal e o último numa área mais afastada da zona urbana de Fortaleza. Em ambos os rios, os níveis de malathiona e cipermetrina estavam acima de muitas regiões agrícolas. “A malatihona é resíduo provavelmente do combate à dengue, o que já poderia se esperar, uma vez que é usada uma grande quantidade da substância e muitas vezes nos bairros marginais aos
dois rios”, informa Rivelino Cavalcante.

O pesquisador chamou atenção para o fato de os dois rios serem poluídos continuamente e destacou o aumento progressivo no uso dessas substâncias
em atividades domésticas, “uma vez que as pessoas abandonaram práticas alternativas, e se criou a cultura do imediatismo, fruto da divulgação maciça pelas empresas fabricantes, o que popularizou o uso de substâncias químicas nos lares brasileiros”, destaca.

De acordo com o artigo, pela primeira vez os domissanitários utilizados no combate às pragas urbanas foram quantificados em sedimentos de áreas urbanas. “As fontes desses domissanitários para os ambientes estudados são provenientes da sua aplicação em controle de pragas com produtos de venda livre para uso doméstico, uso em campanhas de saúde pública e controle de pragas urbanas por empresas especializadas”, explicam os autores no artigo.

Para o professo Rivelino Cavalcante, os rios Cocó e Ceará são um dos principais exemplos de estuários urbanizados do Brasil, e a poluição pelas atividades urbanas são eminentes. “O desaparecimento de espécies da fauna aquática e até mesmo a morte da flora esta diretamente ligada com a poluição por substâncias que já conhecemos e pelas que nem imaginamos que alcançam os ambientes aquáticos”, explica o professor.

Fonte: Ascom Funcap

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