| Em 12/05/2023

Mais de 400 espécies de aranhas são identificadas em estudo

Pesquisa compilou dados que reforçam a importância de políticas públicas para conservação de biomas brasileiros

Pesquisa compilou dados que reforçam a importância de políticas públicas para conservação de biomas brasileiros. (Imagem: Pixabay)

Quantas espécies de aranha existem no Brasil? Quantas estão na Mata Atlântica? Como elas impactam na conservação do meio ambiente? Hoje, as respostas para tais perguntas podem ser encontradas em uma busca no Google. Porém, quem compila essas informações são pesquisadores que trabalham arduamente produzindo e analisando publicações científicas sobre o tema em todo o Brasil. Alguns desses pesquisadores estão na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e no Instituto Butantan, onde foi desenvolvido trabalho que criou um banco de dados com as espécies de aranhas da Mata Atlântica Brasileira com apoio da FAPEMIG.

A iniciativa faz parte de um projeto maior que estuda os biomas brasileiros, desde a sua formação, distribuição e migração da fauna e flora no país. Assim, a pesquisa auxiliou o mapeamento da distribuição das espécies e a entender mais sobre o processo de formação da Floresta Atlântica, com o propósito de preservá-la. As aranhas foram escolhidas como alvo pelo grupo por serem um bom modelo biogeográfico, ou seja, por possuírem diversas espécies, se dispersarem no ambiente e serem sensíveis às condições ambientais.

De acordo com o professor Adalberto Santos, do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciência Biológicas da UFMG, também coordenador do projeto, foi realizada a análise e revisão da literatura brasileira observando a taxonomia (descrição e identificação das espécies) e as relações filogenéticas (relações de parentesco) entre as linhagens. O resultado superou as expectativas da equipe responsável, uma vez que se descobriu cinco novas famílias e 418 novas espécies de aranhas, o que, segundo o pesquisador, é uma quantidade impressionante.

Santos explica que, comparado a outros insetos e animais, a descoberta de uma espécie de aranhas é algo comum, mas descobrir mais de 400 espécies é, ao mesmo tempo, fantástico e preocupante. “A quantidade de novas espécies que encontramos apenas em uma floresta local é incrível e assustador, pois ficamos pensando quantas delas estão ameaçadas, quantas podem ser extintas e quantas já foram extintas sem nem conhecermos!”.

Impactos positivos

A compilação das publicações ainda permitiu o mapeamento e a observação da distribuição geográfica dos grupos no país. De acordo com os dados obtidos, o conhecimento sobre as aranhas é limitado a nichos regionais e, apesar da Mata Atlântica ser um bioma muito conhecido e estudado, sabe-se pouco sobre a incidência dos insetos no Cerrado e na Caatinga. Além disso, por ser uma floresta grande e densa, algumas áreas ficam carentes de análise.

O professor conta que o projeto inspirou outros pesquisadores a desenvolverem bancos de dados ainda maiores sobre outros invertebrados. Ele destaca o impacto econômico e social do estudo, que embasou outras iniciativas. “Por exemplo, se uma espécie é ameaçada, se existe exploração econômica, como no caso das aranhas caranguejeiras, vendidas como animais de estimação, pode haver intervenção governamental para impedir essa comercialização sem um plano adequado de manejo das espécies”, conta.

O banco de dados também já auxiliou na elaboração de coleções físicas das espécies para consulta em universidades e museus, além de ser base de novos estudos sobre biotecnologiacom o veneno das aranhas. “Um analgésico ainda mais forte que a morfina está sendo estudado e desenvolvido utilizando o veneno extraído de algumas espécies de aranhas. Vale dizer que isso só é possível porque coletamos, estudamos e descrevemos as espécies e, com base nisso, outros pesquisadores conseguem trabalhar em pesquisas transdisciplinares”, destaca Santos.

A união dos dados obtidos sobre as aranhas, atrelados a dados de outros animais e da vegetação da região, corroboram os achados de outros estudos que analisam a biodiversidade brasileira. Os pesquisadores apontaram que as unidades de conservação brasileiras protegem apenas 60% da biodiversidade dessas espécies, sendo que essas unidades se concentram nas grandes regiões de estudo, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. As informações geradas pelo estudo têm o potencial de influenciar decisões sobre políticas de conservação ambiental, além de apontar deficiências das unidades de conservação do Brasil a fim de impulsionar mudanças.

O Brasil contém 3.103 espécies de aranhas distribuídas em todo o território, o que representa 7,5% das espécies do mundo. (Crédito: reprodução Fapemig)

Políticas públicas

Santos conta que os trabalhos taxonômicos e as publicações auxiliam na elaboração e revisão do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. “O maior efeito prático das nossas pesquisas, com certeza, foi a ampliação de políticas públicas de conservação das espécies. Descobrimos quais os grupos mais ameaçados, sua localização e motivos da ameaça e entendemos que essas espécies estavam em áreas de maior risco”. O pesquisador ainda destaca que esses estudos ajudam no mapeamento de quais áreas são mais impactadas pela ação humana e precisam de mais ações de preservação.

As informações do Livro Vermelho contribuem para a definição das principais áreas que precisam de investimento em ações de preservação e auxiliam na tomada de decisão sobre a flexibilização de algumas políticas ou restrição de outras. Como exemplo, o professor destacou a política de mineração em locais com cavernas, que antes restringia as atividades para a preservação da fauna e flora existentes no local, mas hoje abre espaço para a atividade extrativista, condicionado a um relatório prévio sobre as espécies nativas e se elas existiam em outras localidades. Se existissem, não haveria ameaça e a atividade de mineração poderia ser realizada.

“Com a mudança desta política e a exigência de estudos anteriores ao início da atividade de exploração, nunca se coletou tantos dados e invertebrados em cavernas. No passado, o relatório de impacto ambiental para qualquer empreendimento focava em vertebrados e plantas existentes no local, porém, com essa alteração, houve a inclusão dos invertebrados, inclusive das aranhas. Então, agora, empresas de consultoria coletam diversas aranhas em cavernas e nós, especialistas, ajudamos a estudar, identificar e descrever as novas espécies para que se façam políticas de conservação no local”, explica o coordenador do projeto.

Mata Atlântica

A Mata Atlântica é um dos maiores biomas brasileiros e uma das florestas mais ricas em biodiversidade. De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, a flora presente no bioma representa 5% das espécies mundiais, com mais de 15 mil exemplares. Quanto à fauna, são mais de dois mil vertebrados registrados no bioma, o que também representa 5% do montante mundial.

Apesar de ser uma das mais ricas no mundo em biodiversidade, também é uma das mais ameaçadas. Cerca de 60% dos animais ameaçados de extinção no Brasil são da Floresta Atlântica. Hoje restam somente 12,4% do bioma original e parte dele não é conservado de maneira correta.

Estudos como o do professor Adalberto impulsionam ações de preservação ambiental e destacam o que ainda resiste na floresta. Ao mesmo tempo, geram conhecimento e novas descobertas, como foi o caso das aranhas e dos novos bancos de dados de invertebrados inspirados pelo trabalho da equipe.

Outro ponto importante é que estudos sobre invertebrados ainda são escassos no país e encontrar dados sobre torna-se difícil. O incentivo a pesquisas na área contribui para a divulgação científica quanto às espécies existentes nos biomas brasileiros e, como destacado, auxiliam pesquisas sobre os próprios ecossistemas.

 

Fonte: FAPEMIG (Por: Bárbara Teixeira/Ascom Fapemig)

 

SIGA O CONFAP NAS REDES SOCIAIS:  

    

Leia também

Em 02/05/2025

Com apoio da Fundect, campo experimental avalia sustentabilidade agrícola na Rota Bioceânica em Porto Murtinho

Projeto de pesquisa liderado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) está avaliando a sustentabilidade de diferentes culturas para recuperação de pastagens degradadas em Porto Murtinho (MS), município estratégico na Rota Bioceânica. A iniciativa é resultado da criação da primeira Unidade Experimental de Pesquisa da rota, com investimento de R$ 1,5 milhão da […]

Em 01/05/2025

Dispositivo inovador garante eficácia na odontologia a pacientes com deficiência ou comportamento difícil

A saúde bucal de pessoas com deficiência e/ou comportamento difícil apresenta muitos desafios, especialmente quando se trata da realização do atendimento odontológico e manutenção da saúde bucal, de forma adequada e segura. Com o objetivo de solucionar esse problema, a pesquisadora e cirurgiã-dentista Ana Cecília Moreira desenvolveu o Abreboca, dispositivo inovador destinado a abrir – […]

Em 30/04/2025

No Amazonas, Workshop da Iniciativa Amazônia +10 reúne mais de 100 pesquisadores para apresentação de estudos sobre a região amazônica  

Com foco em temas estratégicos para a região Amazônica, mais de 100 cientistas de diferentes localidades do Brasil participaram das apresentações dos resultados parciais de 39 pesquisas desenvolvidas no âmbito da Iniciativa da Amazônia +10. O evento promovido pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), […]

Em 30/04/2025

Investimentos em inovação e tecnologia no agro aéreo vai impactar em ganhos e menos acidentes fatais

Com o objetivo de alcançar avanços na tecnologia aeronáutica paranaense, foi lançado na sexta-feira (25), o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Aeronaves de Pequeno Porte. O foco inicial das pesquisas é o avião agrícola de pulverização não tripulado. O projeto visa, inicialmente, o voo remotamente pilotado do AgroVANT (uma aeronave de pulverização agrícola, […]

Em 30/04/2025

Brasília em Realidade Virtual: uma viagem imersiva pela arquitetura da capital

Reconhecida mundialmente por sua arquitetura modernista e planejamento urbano inovador, Brasília é tema de uma experiência multissensorial desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB). A iniciativa utiliza a tecnologia de realidade virtual para apresentar, de forma interativa e imersiva, os principais patrimônios arquitetônicos da capital, como o Congresso Nacional, o Palácio da Alvorada e […]

Em 30/04/2025

Governo do Amapá lança chamada pública para desenvolver projeto de inovação sobre o autismo

O Governo do Estado do Amapá, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amapá (FAPEAP), lançou na segunda-feira (28/04) a Chamada Pública nº 002/2025 – Pesquisa e Inovação para o Autismo no Amapá. A iniciativa visa financiar um projeto que promova avanços no conhecimento, diagnóstico, inclusão, tratamento e apoio às pessoas com […]

Em 30/04/2025

Pesquisa da Unemat leva alunos da Rede Estadual a estudar dinâmicas das baías do Pantanal

Uma pesquisa de doutorado da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) proporcionou a alunos da Rede Estadual uma compreensão das baías Siá Mariana e Chacororé, localizadas em Barão de Melgaço, no Pantanal mato-grossense. O projeto de educação ambiental foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat). A iniciativa […]

Em 25/04/2025

Projeto desenvolvido na educação básica sugere repelente sustentável na luta contra mosquitos

Com apoio do Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), via Programa Ciência na Escola (PCE) um projeto desenvolvido em Manacapuru (distante 68km de Manaus), intitulado “Inovação Amazônica: Repelente Sustentável que promete revolucionar a luta contra mosquitos”, sugere um modo sustentável para lidar com os transmissores […]

Em 23/04/2025

Fapespa reúne representantes de Universidades federais para discutir Rede de Bioeconomia do Pará

Mensurar a bioeconomia no Pará, seus impactos sociais e identificar parcelas ainda não visíveis dessa economia, ampliando a compreensão do setor e evidenciando sua complexidade e potencial. Essa foi a pauta da reunião realizada na segunda-feira (14), na Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). O encontro reuniu representantes da própria Fapespa, da […]