Estruturas microscópicas relacionadas com a reprodução de algumas espécies de plantas, os grãos de pólen carregados por massas de ar também podem gerar evidências importantes sobre a dinâmica da atmosfera. Em estudo coordenado pelo botânico Luiz Antonio da Costa Rodrigues, do Laboratório de Palinologia do Museu Nacional – unidade vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) –, pesquisadores fluminenses vêm utilizando essas estruturas vegetais como um indicador natural das teleconexões atmosféricas entre o sul da América do Sul e a Antártica. “O diferencial do trabalho foi a identificação da viabilidade do uso de grãos de pólen como biomarcadores do transporte atmosférico. O pólen passa a ter importância como ferramenta de estudo das massas de ar, ao lado do seu já conhecido papel nos estudos sobre a biodiversidade”, justificou Rodrigues.
A pesquisa resultou na publicação de artigo na revista científica internacional Polar Biology, intitulado Diversity of pollen grains transported from South America to the Antartic Peninsula through atmospheric dispersal. Além de Rodrigues, primeiro autor, assinam o trabalho os pesquisadores Cláudia Barbieri Ferreira Mendonça (Museu Nacional/ UFRJ), Marcus Vinicius V. J. Licínio (Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes), Kamila da Matta Agostini (Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj), Alexandre Santos Alencar (Uerj) e Vânia Gonçalves Lourenço Esteves (Museu Nacional/UFRJ). O estudo foi desenvolvido com apoio da FAPERJ, por meio de diversas iniciativas de fomento à pesquisa concedidas nos últimos anos à Vânia, como o edital Auxílio Emergencial ao Museu Nacional e o programa Cientista do Nosso Estado. Ela foi orientadora de Rodrigues na sua dissertação de mestrado em Ciências Biológicas (Botânica) defendida no Museu, em 2016, já com o tema Aplicação de biotraçadores para análise de transporte atmosférico entre a América do Sul e o Continente Antártico.
As amostras de polens, encontradas em forma de neve no continente gelado, foram preservadas em minúsculos sedimentos denominados palinomorfos, e coletadas durante o trabalho de campo de Alencar, em 2012, na ilha Rei George, situada ao norte da península antártica. Ele explicou que os grãos de pólen são facilmente preserváveis em ambientes com pouca oxigenação, por serem muito resistentes, e assim mantêm as suas características externas, mesmo em condições adversas, como o congelamento. “Os grãos de pólen são postos em suspensão na América do Sul. Eles viajam a cerca de 800 metros de altitude média, enquanto um avião voa a aproximadamente doze mil metros. As massas de ar transportam os polens até a Antártica, onde eles precipitam devido à diferença de temperatura e pressão. As condições climáticas permitem a precipitação, a queda em forma de chuva ou neve”, detalhou.
O transporte dos palinomorfos na atmosfera foi estudado com auxílio de recursos computacionais, com a utilização de um modelo Híbrido de Trajetória Integrada Lagrangiana de Partícula (Hysplit), por meio de trajetórias de massas de ar geradas na plataforma da National Oceanic and Atmospheric Administration. “Por meio de modelos gerados pela plataforma, conseguimos identificar a origem da massa de ar e a altitude que ela viaja. Observamos os caminhos do pólen e a simulação das trajetórias de massa de ar no modelo Hysplit, um projeto da Nasa voltado para a melhor compreensão do comportamento das massas de ar, que indica detalhes sobre a alteração de temperatura, pressão e direção. Esse programa calcula o caminho que a massa de ar percorre de um ponto para o outro e gera gráficos”, explicou.
De acordo com o botânico, as teleconexões acontecem desde sempre, de acordo com a conformação geológica do planeta e as mudanças do tempo. Suas trajetórias também são influenciadas pela temperatura superficial do mar. Ele destaca a importância de monitorar com regularidade as dinâmicas das massas de ar entre os continentes. “Em tempos de mudanças climáticas, é imprescindível acompanhar os movimentos naturais, especialmente a influência do continente antártico e das suas massas de ar, que influenciam o nosso clima e de todo o planeta. É importante para prever migrações de áreas de plantio, eventuais catástrofes e suas relações com as massas de ar”, justificou. “Comprovamos que existem grãos de pólen transportados regularmente da América do Sul para a Antártica, fato que não havia sido descrito na literatura científica”, ressaltou.
Fonte: FAPERJ (Por: Débora Motta/Ascom Faperj)
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