Preocupados em como as comunidades mais vulneráveis, entre elas as ribeirinhas, lidarão com as mudanças climáticas na Amazônia, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá (UEM) trabalha em um projeto que visa elaborar planos de adaptação às mudanças climáticas. Intitulado “Resiliência em sistemas socioambientais ribeirinhos na Amazônia”, o estudo é realizado em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
Segundo a coordenadora do projeto pela UEM, professora Evanilde Benedito, entre as atividades os pesquisadores visitam comunidades ribeirinhas do Lago do Catalão (região de Manaus-AM), do Rio Purus (Amazonas), na região da Reserva Biológica do Abufari e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus. “As atividades realizadas junto aos ribeirinhos têm por objetivo central a coleta de informações e o auxílio a estes moradores da apropriação do conhecimento local e de como eles podem lidar com as mudanças climáticas que os afetam de forma direta”, conta a professora.
O projeto é financiado pela Fundação Araucária e pelas Fundações de Amparo à Pesquisa dos estados do Amazonas (FAPEAM) e Alagoas (FAPEAL), no valor de R$ 962.900,00. Este é um dos projetos apoiados pelo Programa Amazônia +10, realizado em parceria pelas Fundações de Amparo à Pesquisa de 19 estados brasileiros e do Distrito Federal, com a participação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Durante o trabalho de campo e as oficinas os moradores relatam como os eventos extremos, como seca e cheia severas, causados pelas mudanças climáticas, têm trazido sérios prejuízos. O pesquisador do projeto e do pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (UEM), Matheus Scoarize, destaca que para a elaboração dos planos de adaptação às mudanças climáticas o trabalho acaba sendo uma coprodução dos pesquisadores e da população local.
“Não é um produto desenvolvido, exclusivamente, pela academia. Precisa ser feito em conjunto com a comunidade pois é preciso entender o modo de vida, como eles podem se adaptar e a academia contribui com o conhecimento científico. Sempre considerando as comunidades locais”, explica.
Ele comenta que os depoimentos dos moradores trazem as informações sobre os problemas que surgem em uma cheia ou seca extrema, por exemplo, e como afetaram a pesca e a produção de alimentos. “Essa coprodução dos planos de adaptação é feita a partir de visitas às comunidades locais e questionários. A partir destes dados, será montado o plano de acordo com as especificidades de cada região”, afirma Matheus Scoarize.
Após os 36 meses de estudos, em 2025, os pesquisadores pretendem estabelecer e oferecer um protocolo de procedimentos de avaliação para capacidade de resposta das comunidades amazônidas a alterações ambientais extremas. Também pretendem contribuir para a formação de recursos humanos para o enfrentamento das consequências das mudanças climáticas.
A professora Evanilde Benedito, ressalta a importância da participação dos pesquisadores paranaenses no projeto. “É indiscutível o apoio que o projeto dá à ciência paranaense, uma vez que a realidade que vivemos hoje exige parcerias das mais diferentes instituições. O Bioma Mata Atlântica, já bastante destruído, traz ali experiências ao Bioma Amazônia que passa agora por severas condições ambientais e de redução de sua biodiversidade. O programa traz benefícios para todo o País”, enfatiza.
Os planos de adaptação às mudanças climáticas elaborados para a região de Manaus, também podem ser referência para planos de adaptação em cidades do Paraná. “Considerando que as questões ambientais pelo país, pelos diferentes Biomas, apresentam algumas semelhanças como as queimadas, temporais e seca extrema. Então todas estas realidades problemáticas serão endereçadas nos planos, principalmente, com o intuito de prevenir danos sociais, econômicos e ambientais”, analisa Matheus Scoarize.
“Então muitas das ideias desenvolvidas para os planos de Manaus podem ser incorporadas para a realidade do Paraná, ponderando este fato de que a coprodução precisa ser ativa e com a participação das comunidades locais”, observa Matheus.
No estudo os pesquisadores reforçam que os planos de adaptação envolvem toda a sociedade, com a participação do poder público, do setor científico e das comunidades tradicionais locais para que a proposta seja construída em conjunto.
Sobre a Iniciativa Amazônia+10
A Iniciativa Amazônia+10 é liderada pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo a Pesquisas (Confap) e pelo Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência Tecnologia e Inovação (Consecti), e conta também com a parceria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O programa já destinou quase R$100 milhões em recursos para projetos científicos na região, articulando grupos de pesquisa que combinam pesquisadores da Amazônia Legal e de outros Estados brasileiros. No Paraná, o programa é financiado pela Fundação Araucária.
Dia 5 de setembro é Dia da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Ações como o Amazônia +10 reforçam a importância da contribuição de pesquisadores de todo o País para promover o desenvolvimento sustentável da Região Amazônica.
Fonte: Fundação Araucária (Por: Ascom FA)