| Em 06/01/2025

Método nacional transforma lixo agro em bioinseticidas naturais

Pastilhas inseticida para preservação de grãos armazenados (Foto: Divulgação)

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) desenvolveu um método inovador que oferece alternativas não-tóxicas e não-poluentes ao uso de defensivos agrícolas no Brasil. Com foco na sustentabilidade e na redução do uso de agrotóxicos, o grupo criou bioinseticidas naturais a partir de resíduos agropecuários.

A pesquisa, coordenada pela professora Evelize Folly das Chagas, utiliza a pirólise – um processo similar ao de uma “panela de pressão” sem oxigênio – para transformar resíduos vegetais em biopesticidas. Este método, tradicionalmente empregado para a produção de biocombustíveis como óleos e carvão, foi adaptado pela equipe da UFF para um novo propósito. “O grupo do professor Gilberto Romeiro, nosso parceiro, já trabalhava com pirólise para estudos de bioenergia, mas descartava a parte líquida aquosa do processo”, relembra Evelize. “Fiquei curiosa sobre a composição desse descarte e descobrimos que ele possuía um grande potencial inseticida, com compostos que variam de acordo com o tipo de vegetal utilizado.”

O projeto ganhou impulso em 2014 ao ser contemplado no primeiro edital de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica em Química Verde, lançado pela FAPERJ, que permitiu à equipe aprofundar suas pesquisas e otimizar o método para produzir bioinseticidas mais específicos e eficazes. “A FAPERJ foi o primeiro apoio a esse projeto, que vem rendendo muitos resultados promissores. A Fundação tem tido até hoje um papel fundamental para ajudar as ideias que a gente desenvolve”. De lá para cá, a equipe modificou o método para obter resultados mais específicos, o que rendeu a primeira patente do laboratório, – na categoria especial de “patente verde”, para tecnologias que minimizam impactos ambientais – garantindo exclusividade na produção de biopesticidas mais específicos e eficazes. 

Do laboratório ao mercado

Entre os produtos desenvolvidos pelo laboratório destacam-se uma pastilha inseticida para preservação de grãos armazenados, assim como a segunda patente verde do grupo: um pó acaricida para o controle de carrapatos bovinos. Em testes laboratoriais, ambos os produtos mostraram eficácia de 99% a 100%, comprovando seu potencial para o mercado.

Os resultados promissores levaram à criação da startup AgroTechBio, liderada por Juliana Santos de Andrade, que defendeu recentemente seu doutorado pelo laboratório. Com o apoio de outro edital lançado pela FAPERJ, Doutor Empreendedor, a startup, em parceria com a universidade, trabalhará para aprimorar esses compostos e levá-los à comercialização, oferecendo alternativas sustentáveis e ecologicamente corretas para o controle de pragas. 

A partir da esq. (atrás): Camila Fernandes, a coordenadora da pesquisa Evelize Folly das Chagas, Alexander, Maria Beatriz, Lucca e Yasmim. Na frente, Camila Mattos (rosa), co-titular das duas patentes verdes, e Juliana Andrade (verde), recém-doutora LEPP, ganhou o edital Doutor Empreendedor 2024, fundando a AgroTechBio (Foto: Divulgação)

Expansão para uso de resíduos urbanos

Recentemente, a equipe ampliou seu escopo de atuação ao explorar resíduos urbanos de madeira, como os provenientes das castanheiras ornamentais (Terminalia catappa L.) que ocupam o campus da UFF e várias praias do Rio de Janeiro. Essas castanhas, tóxicas ao ambiente, foram reaproveitadas para a extração de uma substância antibacteriana eficaz contra diversas bactérias que causam mastite bovina (uma inflamação no tecido das glândulas mamárias das vacas). Esse estudo acaba de ser publicado na revista científica Biochemistry and Biophysics Reports.

“A mastite bovina é um grande problema para a produção de leite, causando perdas na quantidade e na qualidade do produto e demandando o uso de antibióticos que podem contaminar a produção”, explica Evelize. O produto antibacteriano desenvolvido pelo grupo tem o potencial de reduzir ou até eliminar a necessidade de antibióticos, preservando a qualidade do leite sem apresentar toxicidade.

O método desenvolvido pela equipe da UFF se destaca como uma solução promissora para o aproveitamento de resíduos que, de outra forma, seriam descartados no meio ambiente. “Estamos conseguindo gerar ativos valiosos e com múltiplas aplicações a partir de materiais que antes eram apenas lixo”, comemora a pesquisadora.

Fonte: FAPERJ (Por: Marina Verjovsky/ Ascom Faperj)

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